Cancro: A vertigem de um diagnóstico

Parte 3

 AS CONSULTAS SEGUINTES

A partir daí tinha que fazer o penso de 3 em 3 dias e ir ao médico cirurgião uma vez por semana.

Na segunda semana o médico já tinha o resultado da análise patológica completa do gânglio sentinela e mantinha-se o resultado: negativo!

Na terceira semana o médico recebeu o resultado do tumor e mantinha-se o esperado: o tumor estava completamente encapsulado, as margens estavam limpas, e o tumor tinha origem hormonal – progesterona e estrogénios – Como já disse: o melhor que se pode ter!

O médico disse que teria que fazer terapia hormonal e dois meses de radioterapia diária e só me voltaria a consultar depois da radioterapia. Fui então reencaminhada para um médico oncologista.

A CONSULTA DE ONCOLOGIA

Uns dias depois fomos à consulta de oncologia. O médico explicou-nos que teria que fazer radioterapia durante 2 meses todos os dias (exceto fins de semana) e que teria que fazer hormonoterapia durante 5 anos e depois reavaliávamos.

O oncologista explicou que há uns anos, em caso de tumor, simplesmente fazia-se uma mastectomia, com esvaziamento axilar (extração dos gânglios da axila), seguida de quimioterapia e/ou radioterapia. Hoje em dia, com o avanço da medicina, consegue-se definir qual é o gânglio sentinela e analisar com precisão se é necessário ou não retirar os gânglios, bem como fazer uma cirurgia conservadora da mama. Mas nesta circunstância, sempre que se faz uma cirurgia conservadora da mama, o protocolo exige que a paciente faça radioterapia, uma vez que os gânglios mamários continuam lá. Segundo nos indicou, em termos estatísticos, numa cirurgia conservadora da mama, se a paciente não fizer radioterapia, a percentagem de reincidir é de 20%, mas se a paciente fizer radioterapia, a percentagem de reincidir passa para 3%.

Explicou que a radioterapia, em termos de efeitos secundários, provoca algum cansaço, e pele seca, mas não mais do que isso, mas a hormonoterapia nos primeiros meses de adaptação é que tem efeitos mais complicados, uma vez que, apesar de não antecipar nem forçar a menopausa, vai provocar os seus sintomas, como irritabilidade, alterações de humor, calores, perda de força nas pernas, entre outros.

Disse também que a partir do momento que se começa a tomar o medicamente para a terapia hormonal é importante fazer exercício físico para a vida, uma vez que aumenta o risco de embolia e, como tal, quem tem uma vida sedentária, deve levantar-se de 90m em 90m aproximadamente.

Comprei várias caixas de Tamoxifeno – a terapia hormonal que me vai acompanhar pelo menos, durante os próximos cinco anos. Tive alguma relutância em tomar o primeiro comprimido, sabendo que ia ser o primeiro de muitos… mas o que tem que ser, tem que ser e uns dias depois tomei a decisão de começar a tomar os medicamentos. Um por dia, sempre à mesma hora, conforme recomendação do médico “- Se deixar passado 2 ou 3 horas, já não vale a pena tomar, só no dia seguinte à hora marcada!”.

A partir de agora tenho que fazer análises de 3 em 3 meses e tenho que vir à consulta de oncologia de 3 em 3 meses.

Saímos da consulta informados e com o Relatório que deveria levar para a consulta de Radioterapia. A indicação médica é de que a radioterapia deve começar entre a 3ª e a 4ª semana após a cirurgia.

A CONSULTA DE RADIOTERAPIA

Foi uma consulta atenciosa e plena de recomendações.  É um processo em que todas as especialidades envolvidas têm imensas recomendações. Quase que vale a pena levar um bloco para apontar notas… é muita informação e tudo muito técnico, pelo menos para uma leiga como eu e para a maioria das pessoas que passam por isto.

No meu caso a radioterapia podia ser feita de duas formas: ou 21 dias seguidos com mais intensidade e, como tal, mais agressiva, ou 42 dias seguidos com menos intensidade, menos agressiva. Em qualquer dos casos, são excluídos os feriados e fins de semana.

A opção depende de vários fatores, nomeadamente da fisionomia da pessoa, que é analisada através de uma TAC inicial para verificar a distância dos órgãos que poderão ser afetados pela radio.

Como o meu tumor é do lado esquerdo, do lado do coração, tinha que fazer a radio em apneia, ou seja, enchendo o peito de ar e mantendo o ar dentro dos pulmões o máximo de tempo que conseguir, para afastar a incidência da radio, o mais possível, do coração e dos pulmões que poderão ser afetados.

Além disso, é recomendado colocar pomada 3 vezes ao dia na mama sujeita a radioterapia para evitar queimaduras. A médica recomendou Biafina ou Bepantene pomada, pois diz que na sua experiência, são as pomadas que melhores resultados apresentam. Se começar a aplicar a pomada antes de iniciar a radioterapia, a pele fica melhor preparada e recupera depois mais depressa. Contudo, não se deve aplicar pomada 3 horas antes de cada sessão, pois diminui a eficácia da radio.

É ainda importante referir que na zona da cicatriz da cirurgia, é normal a mama ficar bastante encaroçada e começar a criar fibroses que com o tempo e com a radio poderão ficar permanentes, por isso a médica disse-me que é essencial massajar diariamente essa zona da cicatriz da cirurgia com dois dedos em movimentos circulares, segurando a mama por baixo com a outra mão. Para facilitar a massagem, utilizei óleo Johnson e em poucos dias o encaroçado maior desapareceu, ficou só uma zona muito pequena mesmo na zona do tumor, mais nada. Por isso é essencial estas massagem após a cirurgia!

Marquei a TAC para uns dias depois. Durante o exame fiz imensos testes de respiração – tentar encher o peito de ar o mais possível e tentar aguentar o máximo de segundos possível – para a médica estudar o meu caso. Além disso, após os testes fazem-nos marcações com tatuagens, umas pintinhas mínimas que vão servir como referência para nos posicionarem de forma correta na máquina em cada sessão de radioterapia. Fizeram-me 3 pintinhas na vertical na zona do externo e uma de cada lado na zona por baixo dos braços.

A médica optou pelas 21 sessões com mais intensidade. Comecei uns dias depois a fazer a minha peregrinação diária para o hospital.

O serviço de radioterapia que frequento é muito personalizado. As pessoas são todas muito simpáticas e atenciosas. Todos os funcionários conhecem todos os pacientes pelo nome próprio. Assim que entra um paciente na sala, imediatamente os funcionários que estiverem presentes o cumprimentam pelo seu nome “- Bom dia Sr. Augusto!”. O mesmo se passa com os técnicos da radio que são imensos pois vão rodando os turnos, mas todos eles conhecem o nome dos pacientes!  Tentam sempre manter uma proximidade grande com o paciente que está física e psicologicamente debilitado, e isso é muito bom.  Mas a sala de espera não deixa de ser um lugar um pouco deprimente, pois vivem-se ali situações de vida dramáticas…

As sessões de radio foram correndo nem sempre bem. O facto de fazer em apneia nem sempre corre da mesma forma. No meu caso a radio é feita sempre com imagens prévias (TAC) na própria máquina. As minhas sessões demoram em média 15/20m, mas cheguei a estar lá quase uma hora, pois as medidas não estavam bem, ou nem sempre respiramos da mesma forma, bastava estar mais ansiosa ou cansada e não conseguir encher o peito da mesma forma e manter a distância do coração pretendida… enfim, nem sempre corria da mesma forma, mas é um processo e acaba por se tornar uma rotina diária a que nos habituamos.

Sintomas da radioterapia: Logo que comecei a radio os primeiros sintomas foi sentir a mama muito quente e inchada, com o mamilo bastante dilatado. Estes sintomas mantiveram-se sempre até umas semanas após terminar a radio.

Próximo da 10ª sessão foi quando comecei a sentir pontadas e dores dentro da mama, mas tudo isso é normal, de acordo com a médica. A partir daí até ao final, a pele estava extremamente sensível ao toque, sobretudo a pele do mamilo, a zona mais sensível, apesar de nunca ter feito bolhas ou queimaduras visíveis. Contudo, toda a zona da pele onde incidia a radio ficou mais escura, como se tivesse ficado bronzeada e apareceram-me muitos mais sinais na zona do externo.

Durante todo o processo da radioterapia fui acompanhada pela médica da especialidade que me ia vigiando e fui chamada pelo nutricionista que faz parte da equipa de radioterapia que me deu imensas recomendações alimentares e uma lista de receitas naturais que posso partilhar se quiserem.

Quando terminei as 21 sessões, fui avisada pela médica para não esperar que a mama começasse logo a apresentar melhoras, pois antes da mama melhorar ainda iria piorar. E assim foi. Durante a semana seguinte, não conseguia tocar no mamilo, estava extremamente dorido e a pelar como se tivesse apanhado um escaldão. Desde que acabei as sessões comecei a colocar 3 vezes ao dia Bepantene misturado com Cicalfate da Avène, uma pomada cicatrizante que não pode ser usada enquanto se está a fazer a radio pelo facto de ter metais na sua composição.

Neste momento passaram 2 semanas desde que terminei a radioterapia e o mamilo está só ligeiramente dorido, mas ainda está bastante dilatado. A mama ainda está um pouco inchada. Continua com o tom bronzeado, mas penso que a cor demora uns meses para voltar a um tom de pele mais natural, se bem que penso que nunca se recupera a tonalidade normal da pele…

Alex

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